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27/06/2025

80 anos da Carta da ONU, guerras em curso


As guerras em curso, o declínio do multilateralismo, a voz profética dos Papas
Andrea Tornielli

Em 26 de junho de 1945, era assinada em São Francisco a Carta das Nações Unidas, que em seu Preâmbulo indica o propósito de "salvar as futuras gerações do flagelo da guerra" e de "promover o progresso social e um mais elevado padrão de vida dentro de uma liberdade mais ampla". Ela foi assinada pelos representantes de 50 países emergentes da mais catastrófica – e ainda não concluída – guerra mundial vivida pela humanidade. Uma guerra que marcaria o recorde macabro de aproximadamente 50 milhões de mortes, a maioria civis.

Oitenta anos depois desta instituição – templo do multilateralismo, que tem sua razão de ser na primazia da negociação sobre o uso da força, na manutenção da paz e no respeito ao direito internacional – mostra todas as suas rugas. No entanto, sua instituição representou um verdadeiro milagre, ocorrido na cidade estadunidense que leva o nome do Santo de Assis. Um milagre frágil, como o vidro do Palácio de Vidro, que levou a resultados importantes: a codificação e o desenvolvimento do direito internacional, a construção das normativas dos direitos humanos, o aprimoramento do direito humanitário, a resolução de muitos conflitos e muitas operações de paz e reconciliação.

Precisamos desse frágil milagre mais do que nunca hoje. Devemos torná-lo menos frágil, acreditar nele como demonstraram acreditar os Sucessores de Pedro, que de 1965 a 2015 visitaram o Palácio de Vidro, reconhecendo que as Nações Unidas foram e continuam sendo a resposta jurídica e política adequada aos tempos em que vivemos, marcados por um poder tecnológico que, nas mãos de ideologias, pode produzir atrocidades terríveis.

Nestes dias, pronunciando-se em uma conferência na Universidade de Pádua, o ministro da Defesa italiano, Guido Crosetto, afirmou com lúcido realismo: "Devemos proteger as conquistas de anos que nos levaram a codificar o direito internacional, que é totalmente diferente de uma ordem internacional e, muitas vezes, em contraposição a uma ordem internacional. Porque a ordem internacional — acrescentou o ministro — é normalmente imposta por alguém, pelo mais forte, que pode decidir que essa lei, em alguns casos, não conta. Que é o que estamos vivendo hoje... Isso porque o multilateralismo está morto e a ONU conta tanto quanto a Europa no mundo, nada!".

Não é preciso muita imaginação para entender a que se referem suas palavras: basta observar o que aconteceu nos últimos três anos, desde a agressão russa contra a Ucrânia até o ataque desumano do Hamas contra Israel em 7 de outubro; desde a guerra que arrasou Gaza, transformando-a em uma pilha fantasmagórica de escombros e cadáveres, até o perturbador conflito entre Israel e Irã, que também contou com a intervenção dos Estados Unidos. É verdade, infelizmente, que a ordem internacional é imposta pelo mais forte, que decide quando proclamar e quando esquecer o direito internacional e o direito humanitário, conforme a conveniência.

Por isso, oitenta anos após o início daquele frágil milagre, com a voz de Leão XIV, repetimos as palavras “mais urgentes do que nunca” do profeta Isaías: «Uma nação não levantará a espada contra outra nação, e não se adestrarão mais para a guerra». “Que seja ouvida esta voz que vem do Altíssimo”, disse o Papa, “sejam curadas as feridas causadas pelas ações sangrentas dos últimos dias. Rejeite-se toda a lógica da arrogância e da vingança e seja escolhida com determinação a via do diálogo, da diplomacia e da paz.” Os caminhos do multilateralismo e da negociação. Os caminhos trilhados há oitenta anos, que representam a única alternativa para o nosso mundo tão próximo do abismo da autodestruição.

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