Virou moda nos últimos anos católicos e evangélicos preocuparem-se com a celebração do Halloween, chamada popularmente de “dia das bruxas”.
A festa é literalmente demonizada, como uma espécie de adoração ao demônio (demônio como se compreende a partir da visão cristã). Portanto celebrar essa festa seria uma “armadilha” do diabo para enganar as pessoas e fazê-las adorar ao Maligno.
Não vou entrar no mérito da origem da festa, muito mais antiga do que possamos imaginar, remetendo a tradições pré-cristãs. Aqui interessa apenas fazer uma pequena reflexão sobre a “periculosidade” dessa festa.
A expressão halloween “All Hallows Eves”, literalmente “véspera de todos os santos”, remonta a uma adaptação de uma antiga festa céltica ao ambiente homogeneamente cristão medieval. No ambiente católico All Saints Day, “Dia de Todos os Santos” era e ainda é celebrado no dia 1 de novembro, provavelmente também já tendo em conta fazer uma contraproposta cristã à festa de origem pré-cristã.
No ambiente pós-reforma, desaparece a festa do “Dia de Todos os Santos”, mas culturalmente sobrevive o Halloween. Porém, essa festa culturalmente pré-cristã é um problema espiritual ou apenas uma jogada de marketing?
Então, essa é a questão: tem muitos religiosos afirmando que nesse dia se invocam as forças das trevas, que os satanistas fazem adorações ao diabo, que as crianças ficam suscetíveis ao poder do mal, etc. As origens dessas informações são, em geral, oriundas de religiosos bem exaltados. Gente que usa como argumento a opinião de exorcistas, de ex-satanistas e outras fontes bastante questionáveis e, assim, demonizam aquilo que não faz parte da tradição cristã.
Particularmente penso que muito mais do que o diabo o que está por trás do Halloween, celebrado em todo o mundo, seja um poder real bem mais concreto: o mercado. Aliás, como dizia o Pe. Libânio ninguém exige tantos sacrifícios como o “deus mercado”.
Num ambiente cristão, demonizar uma festa é algo perigoso. No passado demonizou-se celebrações e pessoas e isso gerou dor e morte. Basta imaginar que a festa de Halloween, também é chamada de dia das bruxas e que a bruxa, no imaginário popular está ligada ao demônio. Por conta dessa ligação entre a bruxaria e o demônio, milhares de mulheres foram perseguidas, torturadas e mortas nos ambientes cristãos.
Demonizar o diferente causa muitos estragos. Basta ver como hoje ainda há cristãos que demonizam as religiões de origem africana a partir dos mesmos preconceitos, considerando suas entidades como demônios. Contudo, penso que Halloween é uma jogada de marketing e que não faz parte do nosso modo de ser brasileiro. No entanto, a cultura está em processo continuo de evolução e talvez, no futuro, essa será uma festa assimilada por nós.
Pe. Leonardo Lucian Dall’Osto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário